5.0 out of 5 stars
Leitura desafiadora
Reviewed in Brazil 🇧🇷 on November 14, 2021
Faz tempo que eu deixei de ler descrições literárias. Atualmente escolho dar início a uma leitura pela capa e, ou resenha(s) que li.
Neste caso, decidi participar da LC - Leitura Coletiva (mesmo desconhecendo a autora, suas obras, enfim) pela capa, porque curto enredos com “cowboys”, fazendeiros, peões, etc.
E como grande parte das histórias dramáticas, eróticas, “hots”, etc; essa também tem na nota da autora (na descrição da Amazon, idem) um alerta sobre a abordagem de temas que podem gerar gatilhos nas leitoras, nos leitores, enfim.
Um alerta presente em tantos outros e-books e livros que li e não morri, vamos dizer assim. Só que para mim, para o “eu” Michelle (que não tem relação com você que leu ou vai ler) acompanhar a trajetória da Cecília, foi até agora a minha leitura mais desafiadora.
Cecília é uma adolescente que acabara de completar dezenove anos de idade e desde que a mãe morrera - quando ela tinha quatorze - em um acidente de carro, vem sofrendo v.i.o.l.ê.n.c.i.a moral, física e psicológica, um crime que está sendo cometido por seu padrasto Vicente. O delegado da fictícia cidade de Santa Maria (tendo como base a localização da cidade Domingos Martins/ES).
A autora Alicia Bianchi foi muito fiel ao seu propósito de “não amenizar o sofrimento”. Foi angustiante, chocante, doloroso? Muito. Porém, ainda que seja na ficção, precisamos parar de “dourar a pílula”.
Quantas “Cecílias” há pelo mundo? Mulheres que órgãos competentes, médicos e até pessoas próximas fingem não ver, mas julgam. “Ela é estranha”, “Ela mudou de repente”, “Ela pediu”, “Precisava ver como ela se comportava… se vestia… se exibia… se oferecia”.
Ela, ela, ela, tudo é “Ela”, são “Elas”, somos “Nós”. E “Ele”? E “Eles”? São um exemplo - da porta para fora - não é mesmo?
O personagem Vicente, aliás Dr. Vicente, é o retrato fiel de TODOS que cometem crimes contra a mulher. Primeira coisa que ele faz é afastar aquela ME NI NA de tudo e todos. Ele isola ela, a matem em cárcere privado, dentro da propriedade que ela herdara da mãe, a fazenda Caminho dos Girassóis - Cecília aprendeu a paixão pelas flores e plantas com os pais e através dos livros e cadernos da mãe criou espécimes raras e lindas de lírios e orquídeas - que ele destruiu. Destruiu as plantas, a estufa, o “Ipê” que ela amava… Para educa-la.
A Cecília consegue se livrar, a princípio, da v.i.o.l.ên.c.i.a física porque ela literalmente pula a cerca para se esconder na propriedade ao lado e descobre que a antiga pousada agora é o haras de Alexander Lion.
Um ex-agente especial do DEA - Drug Enforcement Administration (departamento de justiça encarregado de apreensão e controle de narcóticos) El Paso que, cinco, quase seis anos antes partiu de Midland, Texas e refugiou-se no Brasil, ali em Santa Maria, após a morte do narcotraficante Carlos Zambada durante uma operação que teve consequências trágicas para ele e toda a sua família.
Quando os olhos de Alexander e Cecília se encontram, naquela troca de olhares, ela enxerga a tristeza no cinza (Um furacão) lindo daqueles olhos e ele enxerga o pavor no azul (Mar revolto) daqueles lindos e enormes olhos .
E, a partir dali, Alex toma para si a responsabilidade de servir e proteger Cecília, mas é uma convivência difícil pois ambos precisam diariamente lidar com as vozes dentro de suas mentes e os vícios individuais adquiridos ao longo dos anos como um jeito de driblar a dor emocional.
Mais um ponto para a autora que não fez as experiências ruins de anos sumirem em um “plim”. Não! Ela desenvolveu… E aí quando as coisas se tornaram menos dolorosa com muita atenção, carinho, compreensão, viagens (morri na hora da música tocando no rádio do carro e o lance “dos pombinhos”… amorzinho demais), eles tendo um ao outro e apesar de tanto sofrimento, estão juntos encontrando motivos, razões para viver… Os demônios renascem do inferno.
Primeiro Surkan Sadik (“quem é esse?”, leia a história) e depois, Vicente. Foi tanta ação, adrenalina e tensão que nos orifícios do meu corpo (se é que você me entende) não passava nem sinal de “Wi-Fi”.
Nessa nova missão, Alex não só salvará Cecília, como cumprirá a promessa que fez a si mesmo desde o primeiro momento em que se dera conta das situações degradantes as quais sua “loirinha” fora submetida. E ele contará com o apoio de Raul, veterinário de seu haras; da advogada Alice e do agente ativo do DEA, também seu amigo-cunhado-irmão, Brian Crawford, que não mede esforços para que a missão seja executada com sucesso.
Observação: o Raul, foi o responsável pelas gargalhadas que dei no desenrolar. A simplicidade e amizade dele pelo Alex é muito tocante.
Eu li e indico.
Agradeço a autora e as participantes desta leitura coletiva que, além de terem proporcionado um debate saudável, me responderam acerca de questionamentos que vieram durante a leitura.
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